Para ser chuva é preciso primeiro ser gota, molhar a terra pouco a pouco, deixar em cada canto uma marca única, especial. A gota molha, mas antes é calma, não faz barulho, não é tempestade.
Quando a gota cai, vez após outra, ela é um sinal. Ela não é um acaso, ela revela um segredo, ela anuncia o que está por vir. A gota é prenúncio, é aviso, é paciente.
Quando a chuva vem ela traz consigo um alarde. Tem que correr para pegar a roupa no varal. Tem que se esconder para não estragar os cabelos. Tem que se proteger para não se molhar. A gota, não. A gota faz a gente pensar primeiro. Ela nos faz refletir sobre o que devemos fazer, e não agir no impulso. Gota é sabedoria.
E antes de ser chuva eu quero ser gota. Quero dar um passo de cada vez para não me apressar. Quero ser calmaria para não me esgotar. Quero ser só paz e não estar fora do lugar. Quero ser gota. Quero ser serena. Quero ser límpida. E se um dia, ainda assim, eu vier a ser chuva, que seja com a certeza de que não pulei fases – posso até molhar o jardim por inteiro, mas, antes de tudo, aprendi a regar uma só flor.
Ester Maria Novaes
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